MESA DE BAR[DO] | ENTREVISTA COM HIRAM ALEM DO CRONISTAS DAS TREVAS BRASIL

Em nossa série de entrevistas com autores, escritores e produtores de material de RPG no Brasil, o MESA de BAR(DO), gostaria de apresentar um dos principais rostos por trás do consagrado blog brasileiro, Cronistas das Trevas Brasil, além de organizador do CofD Day, o historiador Hiram Alem.

1- Para os que ainda não te conhecem, quem é Hiram Alem?
Eu sou um dos editores do blog Cronistas das Trevas Br, também conhecido como Dante por lá. Tenho 26 anos, “carioca da gema”, sou historiador (medievalista) e, claro, apaixonado por RPG.

2- Qual a sua história com o RPG? Como você entrou em contato com o hobby? Qual foi o seu primeiro sistema/cenário?
Minha história com o RPG começa ali em torno dos 11 anos de idade, quando eu costumava ir pra casa de um sobrinho que tinha os livros de AD&D da Abril, a segunda edição da Máscara, alguns livros de GURPS e jogava Baldur’s Gate II no pc. Passei muito tempo livre nessa época lendo esse livros, menos GURPS porque na época aquele monte de números me intimidou (acho que sempre fui de humanas...).
Meu primeiro sistema foi o AD&D e, de certa forma, posso dizer que o primeiro cenário foi Forgotten Realms por causa do BG.

3- Dentre todas as propostas do Antigo e do Novo Mundo das trevas, qual o título que você mais gosta e por quê?
Mago: o Despertar, principalmente a segunda edição. Eu sei que eu deveria fazer um charme, dizer que é difícil de escolher entre tantas linhas excelentes mas não vou. MoD é especial pra mim.
Mago é um cenário que possui forte influência de diversas correntes filosóficas, entre elas (mas não somente) do gnosticismo. Todo mago é um detetive, um investigador com uma curiosidade insaciável sobre o mundo. Imaginem o quanto isso é um prato cheio para um historiador, hehehe.
Entre seus temas estão a obsessão por mistérios e a húbris (orgulho desmedido), de onde o jogo deriva seu horror pessoal. Imagine ser capaz de fazer a realidade se ajoelhar conforme sua vontade. Quão cuidadoso você seria?
Há quem diga que Mago é a linha menos monstruosa pelos despertos não possuírem nenhuma besta que os force a ferir os outros para se manter ativo ou uma natureza dual que esteja constantemente em disputa, ou algo do tipo como as outras linhas. Para mim, é justamente isso que torna Mago uma das linhas mais “monstruosas”.

4- Quem são os Cronistas das Trevas Brasil? Qual a história do grupo?
Bom, a ideia do blog surgiu de um grupo de amigos aqui no RJ, fãs do NwoD (como ainda era chamado na época), mas isso acabou sendo um falso começo. Inclusive, ele ia originalmente ia se chamar “cadafalso”, mas a ideia acabou morrendo aí. Tempos depois, mais ou menos o mesmo grupo voltou a se reunir e dessa vez conseguimos criar o “NWoD Brasil”. Não demorou até que, por razões pessoais, dois dos membros originais saíssem e restassem apenas o S3rv3r1n0 e eu.
Logo após o primeiro CofD Day em 2015 começamos a expandir o time, com o Bruno Venâncio, editor dos nossos Podcasts. Depois dele veio o Thiago Miani, redator e especialista em Changeling da casa. Por último, mas não menos importante, tivemos a adição de Jéssica Lang, responsável por toda nossa identidade visual e design. Embora alguns tenham suas áreas de especialização, todos nós somos redatores para o blog e, o mais importante, um grupo de amigos.

5- Como é o relacionamento dos Cronistas com a Onyx Path? Você acha que o público brasileiro pode esperar as novas publicações da empresa no Brasil?
Posso dizer que temos um relacionamento amigável, na medida em que somos um blog que busca divulgar e promover os jogos da Onyx Path (por limitações de tempo e de equipe, nos focamos principalmente no CofD, que é nossa paixão principal).
Nós dos Cronistas estamos tentando justamente mostrar através do CofD Day que existe público e mercado para essa linha de jogos. Infelizmente temos consciência de que trazer um jogo para o Brasil envolve mais do que ter fãs/mercado ou o querer de alguma editora. Mesmo com o lançamento de jogos via Financiamento Coletivo, como boa parte das editoras tem feito, o câmbio ainda é um grande inimigo. Mesmo assim, acreditamos que um jogo desse porte não vá ficar muito tempo sem ganhar uma versão em português, tendo em vista que a cena do RPG aqui no Brasil tem se mostrado cada vez mais ativa.

6- Como surgiu a ideia de se organizar um Dia Nacional para se jogar o Novo Mundo das Trevas? E quais os principais desafios, que vocês acreditavam que teriam para organizá-lo?
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A ideia do CofD Day surgiu de uma vontade de mostrar que, apesar da tradução destes jogos ter sido encerrada, ainda havia fãs dessas linhas querendo narrar e jogar. Mais ainda, acreditamos que poderíamos apresentar esse jogo para novas pessoas e aumentar a base de jogadores/narradores. Aliás, os livros que a Devir traduziu vendem que nem água nos grupos de compra/venda de RPGs, o que pode ser lido como um indicativo que ainda há bastante vida nessa comunidade.
O principal desafio, sem dúvida, era “como mobilizar sozinhos diversas cidades espalhadas pelo país sem sair do RJ?”. A resposta foi relativamente simples: não faremos isso sozinhos. Em cada uma das cidades participantes encontramos valiosos parceiros que também acreditam na proposta do CofD Day e na cena do RPG. É muito gratificante ver que quase todos que nos apoiaram na primeira edição do evento continuam conosco nessa segunda edição em 2016. É graças a eles e à permissão da Onyx Path que o CofD Day existe.
Sempre há também os desafios gerados por imprevistos, como precisar mudar de lugar muito perto da data do evento ou narradores que tenham problemas no dia, o que nos faz perder alguns jogadores/mesas. Entendemos que os resultados variam um pouco de cidade pra cidade. Aqui estamos olhando para a floresta, e não para a árvore. Mesmo que uma cidade apresente uma única mesa de CofD, ela ainda será extremamente importante no quadro nacional que estamos compondo.

7- Como você e a equipe do Cronistas se sentem por realizar um dos maiores encontros descentralizados de RPG do Brasil, o qual mobiliza diversos grupos de rpgístas em mais de 10 capitais do país?
Dante: Um pouco de espanto (positivo) com a proporção do evento mas, acima de tudo, muita felicidade. Ver tanta gente unida em torno de um objetivo em comum é gratificante, e ajuda a aliviar também um pouco o peso da enorme responsabilidade que é.
Bruno: Eu estou bastante empolgado em encontrar outros rpgistas que adoram CofD como eu.
Jéssica: Logo que fiquei sabendo do evento me empolguei bastante. Isso porque eu estou escrevendo e trabalhando com algo que é minha maior paixão. Os cenários de RPG do Mundo das Trevas e posteriormente do Crônicas das Trevas foram o que me inspiraram a desenhar. Basicamente é o que move minha arte.
Thiago: Inspirado. É sempre uma prova da capacidade dos fãs manterem o que amam sem apoio, sem uma grande empresa [Nacional] por trás, sem dinheiro, só com coragem e muita força de vontade.
S3rv3r1n0:  Ansiedade pura.

8- Qual a expectativa em relação a realização da segunda edição do evento, que ocorrerá no próximo final de semana?
Posso dizer que estamos todos muito ansiosos e com uma expectativa, no geral, bastante positiva. Esperamos que as cidades que se juntaram ao CofD Day neste ano também tenham uma boa experiência para que no ano seguinte possamos realizar um evento maior e melhor para todos.

9- Qual recado você daria para a comunidade rpgística nacional que ainda não jogou o Novo Mundo das Trevas?
Cada um dos jogos aborda temáticas diferentes. Se der uma chance você certamente encontrará um que se encaixe melhor no seu estilo de jogo e horror. Se quiser conhecê-los e ler um pouco antes de escolher, passe no nosso blog, lá temos resenhas para vc conhecer melhor os jogos e achar um que te agrade. De questões como identidade pessoal e memória à corrupção por poder, o CofD é uma linha que aborda com maestria as facetas da antiga pergunta: “o que é ser um humano?”

Se você estiver curioso, apareça no CofD Day 2016. Para mais informações, confira aqui


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